Arrancou nesta segunda-feira, 17, na cidade da Praia, o workshop de Sequenciação Genómica de Nova Geração de HIV-1, dirigido a técnicos de laboratório do Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP). A iniciativa permitirá que Cabo Verde realize a monitorização da epidemia de HIV sem necessidade de enviar amostras para o exterior.
O workshop faz parte do projeto MARVEL, um programa de prevenção da emergência e disseminação da resistência aos antirretrovirais nos PALOP, baseado numa abordagem de sequenciação portátil de nova geração e computacional. O mesmo é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e o projeto está a ser ministrado em Cabo Verde, por investigadores do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT, Portugal) aos técnicos do INSP.
O principal objetivo do projeto MARVEL, segundo o co-investigador principal, Dr. Victor Pimentel, é de reforçar a vigilância dos perfis de resistência aos antirretrovirais nos países africanos de língua portuguesa (PALOP). Esta parceria entre o IHMT e os PALOP, representada em Cabo Verde pelo INSP, visa transferir tecnologia para um método de sequenciação genómica otimizado em Portugal e adaptado às necessidades de países de baixa e média renda.
Conforme o mesmo, a expectativa é que, ao longo desta semana, a equipa avance na vigilância genómica do HIV em pacientes que vivem com o vírus no país. Além disso, os técnicos do INSP serão capacitados para operar o MinION, uma tecnologia recentemente adquirida pelo instituto, que permitirá a Cabo Verde conduzir autonomamente a monitorização da epidemia.
Embora a transferência tecnológica já tenha ocorrido parcialmente em São Tomé e de forma definitiva em Angola, esta é a primeira vez que todas as etapas da sequenciação genómica estão a ser realizadas integralmente no país.
O projeto MARVEL, considerado a principal iniciativa institucional do IHMT nesta área, pretende expandir a metodologia para outras doenças emergentes.
“Com as mudanças climáticas e o aumento de surtos de dengue, zika e chikungunya, pretendemos utilizar esta tecnologia para responder a diferentes agentes infeciosos. Uma vez que a equipa do INSP esteja plenamente capacitada, o instituto terá maior autonomia na resposta a surtos epidemiológicos”, explicou o Dr. Victor Pimentel.
Para a Dra. Silvânia Leal, representante do projeto em Cabo Verde e doutoranda em Ciências Biomédicas com especialidade em HIV, a troca de experiências e a transferência de conhecimento fortalecem as competências técnicas do Instituto e permitem respostas mais eficazes às questões de saúde pública no país.
“O projeto tem um impacto direto na melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV em Cabo Verde, pois possibilita a identificação de mutações de resistência aos antirretrovirais e a escolha do tratamento mais adequado para cada paciente”, destacou.
Embora ainda não haja um tempo exato para a obtenção de resultados, devido a diferentes fatores que influenciam o processo, a tecnologia permitirá mapear o perfil das mutações do HIV no país, o que garante maior precisão na escolha dos tratamentos.
“De acordo com as diretrizes da OMS, todas as pessoas diagnosticadas com HIV devem passar por um processo de genotipagem antes do início do tratamento, para determinar a resistência aos antirretrovirais e escolher a terapia mais eficaz”, concluiu a Dra. Silvânia Leal.
O workshop decorre até sexta-feira, 21 de janeiro.